Um breve olhar na história da música protestante.
Religião
e arte andam irmanadas desde os primórdios da humanidade. A narrativa bíblica
da criação do mundo fala repetidas vezes da aprovação estética de Deus à sua
criação através da expressão “E viu Deus que era bom”. A relação
Criador/criatura foi estabelecida através de ofertas e cultos a partir da
necessidade de transposição para uma esfera diferente da natural cotidiano, o
comportamento do ser humano transformou a vulgaridade dos gestos naturais,
dando a esses gestos novas significações diante do divino, tornando-os assim
ritualizados: “A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer
e mudar o mundo. Mas a arte é necessária em virtude da magia que lhe é inerente”.
O rito e a arte, portanto, transformam pensamentos e objetos naturais em meios
de expressão do mundo transcendente.
A
partir da Reforma Protestante uma nova estética musical se faz presente para
acompanhar a teologia reformada. Com uma nova teologia surgiria também uma nova
estética de adoração e conseqüentemente uma nova estética musical. Esta marcará
a música como instrumento de propagação dos ideais da Reforma. Assim,
principalmente Lutero percebe que poderia usar a música como suporte para a proclamação
do evangelho e difundir os novos conceitos doutrinários, que, aliados à nova
perspectiva musical, revolucionariam o mundo no século XVI.
Dos
anos 40 para cá, a música de Igreja tem sofrido uma grande transformação tanto
na sua prática quanto na sua conceituação. Se antes se pensava em música como
instrumento de adoração e louvor como resultado de um conceito teológico
reformado; na música dos tradicionais hinários denominacionais e executada ao
som de um harmônio ou órgão, hoje, tudo parece mudado. A teologia traduz um
conceito mercadológico da fé, produto da modernidade. A música sacra de hoje,
executada ao som das guitarras e contra-baixos elétricos parece traduzir um
sentimento de diversão e entretenimento.
Provavelmente
a música protestante, aliada às várias velocidade dos veículos de comunicação,
tornou-se produto de consumo, afetando ou alterando sensivelmente sua função no
culto. Esta estética tem mudado a face das igrejas protestantes que fizeram
parte da primeira reforma.
Para
observarmos a diferença estética musical reformada do século XVI e a
protestante do século XX, temos que percorrer pela história da atitude musical
nas liturgias desde a Reforma aos dias atuais, fazendo uma tomada clara da
mudança de atitude em que a música chega à modernidade nas igrejas. Formulando
um breve comentário sobre os momentos da história da música nas igrejas da
primeira reforma (Luterana, Calvinista e a Anglicana), que tinham suas
particularidades, as expressões Barrocas de G.F. Haendel e J.S. Bach no barroco
protestante seu ethos litúrgico, e a adequação da nova estética musical na
igreja protestante do Século XIX e o que é vivenciado atualmente diante da
popularização da música e atuais necessidades das igrejas. Assim notaremos um
distanciamento claro e agressivo na estética musical vivida nos século XVI em
detrimento a vivenciada no final século XX.
Um
olhar na história da música protestante
Fica
evidente que uma nova teologia recorre a uma nova estética formal e artística.
Tendo uma eclesiologia divergente da Romana, as igrejas da primeira reforma
trabalharam a “Centralidade do Culto” de formas reformuladas ou adversas ao
culto romano.
O altar
permanece o centro da eclesiologia anglicana, porém há uma simplificação na
elaboração litúrgica de forte influencia luterana, conseqüentemente na
simplificação das tintas musicais, mantendo uma ortodoxia protestante. Além de
“motetos e missas”, os compositores elisabetanos também escreveram hinos para
serem cantados por coros durante os cultos das igrejas. O hino é contado em
inglês e não em latim como nos motetos.
Há duas
espécies de hinos: o hino completo (full anthem), cantado pelo coro do começo
ao fim, sem acompanhamento instrumental; e o hino com acompanhamento em versos
(verse anthem), com solistas, coro e órgãos ou violas.
Já na
eclesiologia luterana se divide em ortodoxa e pietista, onde na primeira temos
na música um requinte e exclusivismo do canto nas músicas pelo Coro e “Kantor”,
e na Segunda a participação efetiva da comunidade cantando as músicas na
igreja. Cria-se a tradição de compor hinos para serem cantados em alemão por
toda a congregação, no lugar dos “Corus” cantados em latim. Podiam ser músicas
recentemente compostas sacras ou populares, como podiam ser originários de
cantochãos.
O
procedimento de Lutero foi o seguinte: ele toma algumas melodias do repertório
popular e de outras fontes, para doutrinar os fiéis. Segundo ele, o povo
deveria aprender doutrinas bíblicas cantando melodias simples relacionadas ao
seu dia-a-dia. Este procedimento foi extremamente importante para o sucesso e
popularização da reforma. Em carta escrita a Spalatinus, secretário de
Frederick I, Lutero revela seu intento:
“(Nosso)
plano é seguir o exemplo dos Profetas e os Pais antigos da Igreja e compor
salmos para as pessoas no vernáculo… de forma que a Palavra de Deus também
possa estar entre as pessoas em forma de música”.
Na
eclesiologia calvinista a “palavra” se torna o centro de tudo. A mesa do altar
sai do centro para dar espaço ao púlpito.
Essa
dinâmica parte para certos extremos onde igrejas chegavam a ter púlpitos com
três andares e a música nestes casos ficava limitada quanto a sua execução nos
cultos. No entanto, Calvino usou a música como suporte ao ensino das
Escrituras, apesar de ter uma posição totalmente diferente de Lutero no que diz
respeito a sua visão musical. Para entender o ponto de vista de Calvino sobre a
música é necessário conhecer também a sua teologia. Ele não permitia o uso de
instrumentos musicais e nem qualquer música no culto. Calvino porém, defendia o
uso exclusivo da Salmódia, que era uma coleção de cântico dos Salmos de Davi;
os demais usos poderiam ser nocivos, pois, segundo ele, a depravação da raça
humana, poderia comprometer a pureza do Evangelho de Cristo. Diz ele em sua
obra intitulada “As Institutas da Religião Cristã”, volume III, que “as
Escrituras nos dizem que todas as nossas obras são maculadas, e, portanto, não
podem suportar o escrutínio de Deus”.
Com a
finalidade de colocar em prática a idéia de um culto em que houvesse uma
participação mais ativa dos crentes e necessitando de hinos com texto em
alemão, Lutero empenhou-se em requisitar que os compositores de língua alemã o
ajudassem nessa tarefa, colaborando com novas composições. A prática anterior
do canto ficava delegada aos que presidiam a missa. O canto de hinos pela
congregação era algo muito inovador e os hinários ainda não eram acessíveis ao
povo. Os hinos eram escritos com a melodia no tenor, com arranjo para quatro
vozes, concebidas como instrumentos acompanhadores. Não existia ainda a
harmonia funcional com sua sucessão de acordes encadeados tonalmente. A
polifonia consistia aqui no arranjo das vozes em torno do cantus firmus. Essa melodia
principal era quase sempre retirada de outra fonte conhecida, processo denominado contrafactum. Lutero prezava a
simplicidade do tema; que vinha no cantus
firmus, porque queria que o texto fosse compreendido claramente pelos que
sabiam ou não ler.
As
novas melodias trabalhadas por Lutero iriam evoluir para o que passou a ser
denominado de coral
protestante. Em princípio, as
técnicas composicionais desse coral diferiam bastante daquelas que, na segunda
metade do século XVI, caracterizariam este estilo. Usava-se uma notação
não-rítmica, com melodias emprestadas dos Lieder seculares ou com melodias compostas
com os mais variados exemplos rítmicos e não-rítmicos, com fermatas nos fins de
frases.
Nos
séculos XVI e XVII, contemplamos um Barroco tardio nas igrejas protestantes
como parte da estética litúrgica dominical. A música sacra do período barroco
defrontou-se com a alternativa entre ficar com a tradição (o stile antico), que representava todo o acervo que
os compositores haviam adquirido através do seu treinamento acadêmico, ou
aceitar o stile moderno, ora representado pelas várias tendências
que surgiam.
São
seus maiores representantes J. S. Bach pela igreja luterana e G. F. Haendel
pela anglicana, os quais são responsáveis por essa prática no protestantismo
europeu deste período.
No
âmbito religioso, a última metade do século XVI e todo o XVII viram surgir um
movimento de avivamento espiritual, que destacava a liberdade individual. Seus
adeptos queriam desligar-se de toda a autoridade temporal e legalmente
constituída, quer política quer religiosa, para poderem se dedicar às leis do “Reino”.
Esse individualismo era herança da Renascença e tornou-se conhecido como
“pietismo”. Os pietistas rejeitavam a ortodoxia representada pela conservação
dos dogmas tradicionais, que se baseavam na observância fiel das formas
litúrgicas, dos sacramentos, da Bíblia e do sermão. O movimento pietista reuniu
cristãos de várias denominações, incluindo católicos, os quais tinham como
propósito, uma vez desvinculados das autoridades, reunirem-se para oração, para
trabalhos de assistência social e para compartilharem suas experiências
religiosas. O movimento inspirou uma hinodia marcada pelo subjetivismo, com
melodias adaptadas para o compasso ternário, que servia para as danças, em
contraste com o estilo coral anterior.
O
iluminismo, que alimentava a música de concerto (fora do templo), iria influir
na teologia e na música sacra a partir da segunda metade do século XVIII. As
pessoas estavam às voltas com o racionalismo, que substituía o pietismo. A
classe média alta, na Alemanha, dada a influência dos concertos públicos,
começava a se afastar da igreja, e a música secular atingia o clímax com a
Escola Clássica Vienense. No fim do século XVIII e início do XIX as igrejas
protestantes viam o enfraquecimento das instituições que eram em grande parte
nutridas por elas. As escolas para meninos e coros, os músicosKantor responsáveis pelo seu treinamento, as
sociedades Kantoreien, que
tinham a finalidade de manter os coros de adultos, começaram a perder sua
importância tanto nas cidades maiores como nos pequenos centros.
O nível
artístico decresceu e a música da igreja ficou sob a responsabilidade de gente
menos treinada. Na perspectiva iluminista, só deveria permanecer como música
verdadeiramente sacra aquela que pudesse servir à “edificação”, significando
que essa música devia suscitar reverência em todos os congregados para o culto.
O slogan desse período seria “simplicidade e
dignidade nobres”, para evocar sentimentos de devoção. A simplicidade seria
atingida no momento em que todos pudessem ser edificados pela música e não
somente aqueles que eram responsáveis por executá-la. Toda música sacra moderna
do período deveria conter esse espírito ditado pelo iluminismo, ou seja,
possuir um estilo popular e melodioso, como o encontrado nas óperas. Aliás, os
coros das óperas de Gluck e Mozart até foram recomendados para o uso da igreja.
As fugas, por exemplo, eram consideradas impróprias para a igreja: eram
incompreensíveis, não despertavam o sentimento devocional.
Nem
sempre, contudo, o ideal de simplicidade em relação à música sacra correspondeu
à realidade, mas influenciou fortemente para que algumas práticas fossem
adotadas: a cantata acabou por ser suprimida; o canto à capela foi
reintroduzido; os coros cantavam corais a quatro vozes, motetos, árias e hinos
acompanhados pelo órgão ou instrumentos de sopro; surgiram os conjuntos de
trombones. Essa posição antibarroca ainda considerava que os textos próprios
para a música na igreja deveriam primar por uma poesia altamente lírica,
atendo-se às Escrituras. Possuindo textos próprios, compostos especialmente
para os hinos, deveriam evitar os que fossem descritivos e homiléticos, como os
das cantatas.
Já no
romantismo do século XIX uma característica marcante, consiste na busca dos
feitos grandiosos do passado, agora relembrados na música, na literatura, na
pintura. Na música, os compositores voltaram-se para as obras de Tallis, Byrd e
Palestrina (este apadrinhado pela Igreja Romana). O rei prussiano Frederico
Guilherme IV, por exemplo, mandou músicos protestantes a Roma para estudar o
estilo da música sacra de Palestrina. Os motetos, salmos e missas do século XVI
foram vistos como protótipos da música ideal para a igreja. Esse retorno às
glórias do passado fez surgir uma nova disciplina, a musicologia. Outra
característica do período foi a atração por tudo o que fosse medieval. J. S.
Bach foi revivido como o grande artista da arte musical barroca, graças
principalmente aos esforços de Mendelssohn.
O zelo
pelas raízes históricas do passado exerceu influência sobre clérigos e
professores da Igreja Anglicana, os quais empreenderiam um movimento para
restituir a essa igreja a herança de sua tradição litúrgica. Dentro da hinodia
da era romântica, floresceu um movimento conhecido como “Hino Poético” ou “Hino
Literário”, cujo objetivo era fazer com que os hinos veiculassem uma linguagem
rica de poesia. Isso aconteceu bem no início do século XIX e inúmeros poetas da
língua inglesa quiseram prestar sua contribuição. Com esse movimento para
resgatar a boa linguagem literária para os hinos, pode-se dizer que a hinodia,
na Inglaterra, tendia para duas direções: para o reavivamento de suas tradições
litúrgicas e para o enriquecimento dos textos usados nos hinos, de tal forma
que fossem considerados obras literárias.
Foi com
“O Movimento de Oxford” que surgem mudanças na hinodia protestante. O Movimento
de Oxford nasceu sob a égide de alguns professores da Universidade de Oxford,
os quais pertenciam a uma ala da Igreja Anglicana conhecida como Tratadista ou
Apostólica. O sermão pregado por John Keble (1792-1866) em 14 de julho de 1833,
publicado com o título “Apostasia Nacional”, foi o evento que marcou o início
do Movimento de Oxford. A ala dos Tratadistas defendia pertencerem a uma seção
bastante antiga, cuja origem e autoridade provinham diretamente dos apóstolos e
que representava a tradição autenticamente católica, sacerdotal e sacramental
da igreja.
Essa
ala baseava sua fé em duas revelações: na Bíblia e na autoridade da própria
igreja, que seria independente e suprema, razão por que ressentia-se por estar
subordinada às regras seculares do Estado. Havia muitas injustiças a serem
combatidas, principalmente a questão da distribuição da riqueza da igreja. Um
dos objetivos do movimento era restituir à Igreja Anglicana o seu caráter de
igreja católica (universal, histórica e apostólica), muito anterior ao
movimento da Reforma. Criam que a Bíblia devia ser interpretada de acordo com
os escritos dos apóstolos e de acordo com os concílios da igreja realizados
entre os séculos IV e VII d.C.
Os
líderes do movimento também queriam resgatar uma teologia descompromissada com
o que chamavam de “erros” de Roma e com a trivialidade e irrelevância dos
reformadores, caminho denominado por John Henry Newman (1801-1890), um dos
cabeças do movimento, de Via
Media. Essas reformas incluíam também a renovação do clero em relação aos
seus deveres e à sua espiritualidade, pois muitos não estavam levando a sério
essas responsabilidades. Aliado à preocupação com a decadência material e
espiritual de muitas paróquias, havia o anseio de restaurar a liturgia, com a
Eucaristia sendo colocada como parte central do culto. Com isso queriam
evangelizar as massas, atingindo principalmente a população pobre que sofria as
conseqüências da Revolução Industrial.
A nova
concepção litúrgica que pretendiam para a igreja trouxe mudanças que afetaram a
hinodia anglicana.
Foram
buscar na Idade Média os cantos em latim desconhecidos desde a Reforma.
Iniciaram vertendo os textos para o inglês e colocando-os em melodias já
familiares. Depois acharam melhor reescrevê-los em inglês, de sorte que
pudessem ser cantados nas melodias dos cantos gregorianos a que pertenciam. A
restauração de hinos antigos trouxe uma revolução à Igreja da Inglaterra dentro
do seu acervo de hinos litúrgicos, com o estudo dos cantos gregorianos e os
modos eclesiásticos. Mas as conseqüências do Movimento de Oxford para a música
foram mais longe e atingiram inúmeras ordens de mosteiros anglicanos através do
treinamento das vozes para o canto coral. Movimentos leigos também prosperaram:
a Motet Society, surgida na cidade de Londres em
1841, tendo por secretário e editor E. F. Rimbault, nasceu com a intenção de
agrupar coristas desejosos de resgatar para a música litúrgica as obras
históricas defendidas pelo Movimento de Oxford. Em 1852, com o objetivo de tornar conhecidos antigos
ofícios, foi publicado The
Psalter, or Seven Hours of Prayer, according to the Use of the Illustrious and
Excellent Church of Sarum.
Além da
redescoberta da música perdida do passado, os responsáveis pelo Movimento de
Oxford quiseram ampliar o repertório do canto
congregacional, contudo resistiram duramente contra o estilo ornamentado do
pietismo, o qual consideravam ofensivo.
Já os
puritanos que chegaram às terras americanas em 1620 e que faziam parte de um
grupo denominado “Os Peregrinos”, que quando aportaram em Plymouth, traziam um saltério
adaptado pelo teólogo Henry Ainsworth, o qual possuía diversos salmos
metrificados que podiam ser cantados com 39 melodias diferentes, herdadas da
antiga edição de Sternhold e Hopkins, de 1562. No entanto, as primeiras
dificuldades de se adotar uma hinologia comunitária vieram a tona, pois essa
meta não foi de todo alcançada, uma vez que as levas que chegavam à baía de
Massachusetts eram agora formadas de gente menos instruída.
Foi
então que se introduziu a prática do “ler ou cantar em voz alta”, também
denominada de “diaconia”.
Segundo
esse costume, cada verso do salmo era cantado por um diácono e, em seguida,
repetido pela congregação, que não sabia ler. Esse procedimento acarretou o
desmembramento e a deturpação do canto dos Salmos e ainda influiu para que o
culto se alongasse sensivelmente. Como se isso não bastasse, a comunidade foi
descobrindo uma forma de adaptar as letras dos salmos às baladas populares,
fato facilitado pelo “metro comum” utilizado por oito das 13 melodias do Bay Psalm Book.
As Escolas de canto surgiram da necessidade de se colocar
ordem nessa maneira de se cantar os salmos, buscando um retorno à forma mais
antiga.
O
declínio da salmodia fora fruto da ignorância. Nas congregações, eram muito
numerosos os membros que não sabiam a música dos salmos. Portanto, se ensinasse
os fiéis a cantar a música corretamente, tal como impressa no saltério, seria
possível restabelecer o esplendor dos velhos cantos. Foi dentro desse espírito
de reforma que se fundaram pouco depois de 1710 as primeiras Escolas de Canto.
Com a
criação das escolas para a reforma do canto nas igrejas, foram redigidos os
primeiros livros didáticos de música na América.
Em
meados do século XIX, nas igrejas protestantes americanas da linha evangelical,
o canto congregacional consistia nos salmos e hinos, que eram cantados sem
muito entusiasmo. O canto verdadeiramente refinado ficava sob a
responsabilidade dos coros.
Os spirituals foram cantos originários do movimento
de avivamento da América do Norte, ocorrido entre 1740 e o final do século XIX.
O termo faz parte da expressão spiritual
songs, que, nas primeiras publicações americanas, significava os hinos que
não pertenciam à categoria dos salmos métricos nem à dos hinos tradicionais
sacros.
Chamaram-se white spirituals os cantos com características
populares, como os do tipo “balada”, e ainda aqueles usados em acampamentos de
avivamentos comuns no século XIX, realizados nas áreas onde os colonizadores
puritanos se instalaram. Esse tipo de canto originou-se principalmente das
reuniões de avivamento.
Os negro spirituals surgiram da necessidade de os escravos
negros norte-americanos expressarem-se numa linguagem sutilmente modificada
através de palavras com duplo sentido. Privados de uma educação formal e até
orientados por pastores brancos a serem subservientes à escravatura, os negros,
segregados dos brancos, deram nova significação aos temas religiosos. Assim é que
os temas sobre salvação, céu e terra prometida passaram a substituir a
emancipação e a liberdade na terra.
Os
cantos primavam pela espontaneidade e improvisação. O líder era apoiado por um
grupo de cantores “vocalistas”. Havia tanta interpolação improvisada que os
primeiros editores dos negro
spirituals consideravam uma
tarefa penosa e até temerária a notação exata desses cantos. A contribuição
africana encontrada nos cantos pode ser detectada nas improvisações, na forma
“diálogo e resposta” de algumas canções, nos gritos, nas palmas e batidas de
pés e ainda em outras manifestações corpóreas resultantes de uma religiosidade
altamente emocional, também presentes nas reuniões do Grande Avivamento do
início do século XVIII. Alguns dos temas da hinodia de avivamento aparecem
retrabalhados, muitas vezes fundindo elementos disparatados, com imagens e
vocabulário extraídos da situação vivida concretamente.
Esse
estilo marca uma consolidação de uma visão eclesiológica e litúrgica nova, onde
a música é o alvo principal do culto, em detrimento ao simbolismo do Ágape
Pascal. O centro do culto a partir dos reavivalistas, tinha mudado e agora
passava a ser transferido. Onde tínhamos a música como ferramenta (meio) para a
adoração, agora o prazer que ela trazia era a sua finalidade.
Assim,
a música fora do templo (religiosa) passa a ganhar novamente espaço para
concertos e apresentações seculares.
Os negro spirituals espalharam-se pelo mundo todo, graças,
principalmente, à fundação de estabelecimentos objetivando a educação da
população negra bem como seu treinamento em artes manuais. A Universidade de Fisk, no Tennessee, e o Instituto Hampton, na Virgínia, tornaram-se famosos
por suas publicações de spirituals e pela proficiência de um grupo de
alunos e alunas no canto de negro
spirituals. O conjunto Fisk
Jubilee Singers empreendeu
viagens internacionais, dando concertos que se tornaram famosos e ajudaram a
propagar esse estilo musical. Dando margem ao surgimento do que chamamos hoje
de música Gospel (Gospel Songs).
Os termos gospel song e gospel
music foram primeiramente
usados por P. P. Bliss nos seus livros Gospel
Songs, de 1874, e no Gospel Hymns and Sacred Songs, de 1875, este em co-autoria com
Ira Sankey. As principais características dessa música eram: texto subjetivo,
direcionado aos irmãos; um tema único, enfatizado através de frases que se
repetem; um estribilho, cantado após cada estrofe; uso da tonalidade maior, com
a harmonia baseada no encadeamento dos graus I, IV e V, em andamento lento; as
seqüências rítmicas são rotineiras e há pródigo uso da colcheia pontuada
seguida da semicolcheia. Os temas mais recorrentes são: a conversão do
indivíduo, a redenção por Cristo, a certeza da salvação e da vida eterna no
céu. O caráter musical varia entre o “guerreiro de guerra”, o “didático
doutrinário”, o meditativo e o sentimental. O efeito de “eco” pode aparecer
entre voz feminina e voz masculina: o soprano e o contralto apresentam o modelo
rítmico que vem imitado pelo tenor e baixo logo após a apresentação do mesmo
pelas vozes femininas, no tempo seguinte. O idioma popular também serviu para
os gospel songs. Muitas
das idéias musicais usadas nas canções da Guerra Civil Americana foram
re-arranjadas para os gospel.
Música
sacra tradicional dos protestantes, em termos de século XX, é entendida como
aquela que vem sendo cantada há, pelo menos, duas gerações e cujo estilo
musical é aceito pela geração mais velha sem causar perplexidades. Esse estilo
de música detém uma percentagem alta nos hinários das denominações cristãs protestantes.
Nos principais hinários cristãos evangélicos, essa música vem mais ou menos
padronizada seguindo critérios do século passado: a estrutura musical possui
uma quadratura formal, com frases metricamente correspondentes; a melodia é
reconhecida facilmente e, nos hinários a quatro vozes, vem no soprano; a
harmonia segue os princípios da chamada harmonia tradicional, com seus
encadeamentos harmônicos girando em torno da tônica, subdominante e dominante
do tom principal; o estilo mais constante é o do coral, com uma ou duas
enunciações rítmicas para cada tempo musical. O acompanhamento mais usual é
feito pelo órgão ou pelo piano. O texto segue os parâmetros do verso medido,
com métrica regular e rima. A linguagem ainda segue as tendências do período
romântico, herdada diretamente do protestantismo americano, cuja teologia se
fundamenta nos avivamentos dos dois séculos anteriores.
Destacam-se
quatro classificações para o canto do protestantismo, que se passa a apontar
como características fundamentais da linguagem da música tradicional cristã
protestante:
1.
linguagem acentuadamente individualista.
2.
Expectação pelo porvir (ênfase na escatologia).
3.
Sentido provisório do caminhar cristão na terra (a peregrinação).
4.
Textos que se referem ao povo de Deus como “exército”, usando termos militares.
Acrescentaria
a esse grupo uma quinta característica: hinos que chamam o não converso ao
arrependimento de pecados e à “conversão”.
A
música sacra contemporânea está apenas parcialmente ligada à estética musical
do século XX. É principalmente a que utiliza novos conceitos de ritmo, de
harmonia e melodia, mas de uma forma menos “arrojada” do que a não sacra, pois
seus padrões não rompem totalmente com a tonalidade maior e menor do sistema
modal, nem aderem ao sistema de música serial ou aleatória ou a qualquer das
novas técnicas composicionais do século XX. Ela varia bastante de acordo com os
diversos segmentos cristãos.
Para um
determinado tipo de igreja, sua principal característica é o uso da eletrônica
e da percussão. Para outros, a substituição do órgão ou do piano por qualquer
outro instrumento (como o violão e instrumentos de sopro e de percussão) indica
haver uma tendência de contemporaneidade.
As
igrejas pentecostais dão destaque às improvisações individuais durante seus
cultos. Nessas igrejas e em outras protestantes sem um rígido padrão litúrgico,
a forma de apresentação da música sacra contemporânea mais usual é a que imita
os grupos musicais denominados seculares, os quais se colocam no palco à frente
da platéia com um líder para o canto. Em outras denominações, o fato de se usar
cantos não pertencentes ao hinário oficial já será um marco suficientemente
explícito de que ali os cantos não são apenas tradicionais. Porque existe uma
grande e rápida mutação para o conceito do que é atual, a música sacra
contemporânea usa as seguintes características:
1. Nova
concepção rítmica, com tendência para abraçar os ritmos autóctones (no Brasil;
o samba, o baião, o sertanejo, a bossa-nova entre os mais usuais) e reforço na
pulsação através do uso da percussão;
2.
Aceleração do andamento musical; harmonia não mais centrada nos encadeamentos
óbvios da harmonia tradicional (como o encadeamento harmônico dos graus I, IV e
V);
3.
Melodia não quadrada, isto é, a que serve como veículo da métrica ditada pelo
texto, que, atualmente, não vem necessariamente medido;
4.
Quanto ao verso, foge das rimas antigas mais usuais (como a abab ou aabb ou a abba),
preferindo a rima livre;
5. O
texto dá destaque a temas relacionados com os interesses da atualidade.
Nas
denominações preocupadas com a teologia
da libertação, os cantos falam de luta em favor dos pobres e oprimidos e
convoca os cristãos a se engajarem na luta contra a opressão dos mais fortes.
Existe preocupação com a unidade dos cristãos (influência do ecumenismo), por
essa razão há cantos voltados para a fraternidade dos crentes. Nos segmentos carismáticos e evangelicais existe uma grande inclinação para os
cânticos doxológicos e koinoníacos,
grande parte de procedência americana.
Quanto
à forma de apresentação e veiculação há uma clara tendência de tomar as
características da música secular. Qualquer tipo de instrumento musical é
aceito como possível de ser usado como próprio à música sacra contemporânea,
embora os mais adequados sejam os eletrônicos. Os cantos, cuja forma musical se
identifica com a do passado, só serão considerados contemporâneos se a sua
letra expressar conteúdo de problemas atuais (como os da teologia da
libertação) ou se, mesmo contemplando assuntos pertinentes ao acervo cristão,
sua linguagem está comprometida com o modernismo literário. Cantos do passado
serão considerados contemporâneos se houver alterações melódicas, rítmicas ou
harmônicas que modifiquem a versão original, revestindo-a das características
modernas acima mencionadas.
Compreendemos
assim, que o século XX apresenta uma diversidade de estilos e linguagens
musicais como nunca ocorreu anteriormente em nenhum período da história da
música. Muitas tendências até contraditórias aparecem simultaneamente,
expressas em estilos e sistemas de composição ousados, como os que empregam
materiais não-musicais.
As
características mais presentes podem ser catalogadas em dois tipos: as que
perpetuam os procedimentos do romantismo e as que rejeitam as marcas desse
período e buscam modificação. Estão arroladas no primeiro tipo as obras
conhecidas como neo-românticas. No segundo bloco, acham-se as pós-românticas,
as expressionistas, as impressionistas, as futuristas, as dadaístas, as
dodecafônicas, as microtonais, algumas nacionalistas, passando à música
eletrônica, à música conhecida como “pop” e ao jazz. A diferença entre os dois
grupos está em que as obras do último bloco não respeitam mais o sistema tonal
instituído desde o século XVI, com seus princípios harmônicos e cadenciais,
sistema também conhecido como “tonalidade funcional”.
Nos
círculos protestantes, principalmente nas igrejas “não-litúrgicas”, na década
de 20, iniciou-se nos Estados Unidos da América a era do gospel song no rádio, que seria, 25 anos depois,
seguida pela televisão. Esse tipo de canção, mais tida como “música especial”,
não congregacional, pois era principalmente para solos, duetos, trios,
quartetos e pequenos conjuntos, iria ser transplantada para os países
evangelizados pelos americanos. Na década de 40, o evangelismo nessas igrejas
estava principalmente relacionado a Youth
for Christ (YFC), que mais
uma vez reteve a tradição gospel das reuniões avivalistas. A era do
evangelista Billy Graham iniciou-se também sob os auspícios da YFC no ano de
1949, tendo como diretor musical Cliff Barrows, que utilizou repertório da
tradição avivalista do século anterior, comprovadamente eficaz para esse
propósito.
Com
exceção das tradicionalmente litúrgicas, a luterana e a episcopal anglicana, as
demais igrejas históricas protestantes estão abandonando seus hinários
tradicionais e adotando os corinhos das igrejas carismáticas. Existe, portanto,
um sério risco de banimento da tradição do uso de hinários. Ao classificar os
tipos de música usados nas igrejas, João Faustini colocou os corinhos dentro da
“canção evangelística”, por entender que provêm das reuniões de avivamento,
como a de Moody e Sankey, por serem informais e mais apreciados pelas “massas”.
A palavra “corinho” não está dicionarizada e parece ser o diminutivo de “coro”.
As
igrejas protestantes receberam esse tipo de música através da influência
norte-americana, iniciada na década de 50 e intensificada nos anos 60 e 70, por
missionários americanos vindos ao país especialmente para os acampamentos
jovens. O termo “música gospel”
vem dos Estados Unidos e se refere àquela produzida a partir dos anos 60, que
usa “novo som”, apresentado por corais de todas as idades, solistas e pequenos
conjuntos corais, muitas vezes acompanhados de play-backs.
Na
década de 80, os cânticos doxológicos (que glorificam a grandeza e majestade de
Deus) predominaram graças à divulgação da mídia e ao crescimento dos
carismáticos. Ainda na presente década, esses são os cantos dos cancioneiros
mais vendidos nas alas evangelicais, o que pode ser constatado literaturas
evangélicas.
A
música gospel multiplicou-se e os neopentecostais
hoje, principalmente no Brasil, têm-se apropriado dela.
Nas
décadas de 50 e 60, sob a influência dos Rock, despontaram compositores e
grupos do chamado gospel
folk (regionalistas),
ou gospel rock na Inglaterra. Muitos hinários da
década de 60 publicaram música nesse estilo, que acabou por revolucionar a
música vigente nas igrejas, contextualizando uma linguagem que estava sendo
disseminada rapidamente nos círculos não-eclesiásticos, graças à moderna
tecnologia de comunicação.
Essa
tendência valorizava tanto as obras tradicionais quanto as contemporâneas,
dando ao culto um sentido festivo, que acabou traduzido pela palavra
“celebração”. Esse tipo de culto apela à participação coletiva através de
formas e expressões gestuais na música e no drama. A linguagem caracteriza-se
por ser mais pessoal em toda a liturgia, inclusive com o uso de linguagem
atualizada da Bíblia. Nas comunidades com essas características, é costume dar
grande ênfase à comunhão (koinonia) entre os crentes.
Em
termos amplos, como tendência internacional, os anos 70 foram ainda mais
produtivos para a música “pop”, principalmente em razão da expansão das igrejas
carismáticas ou neopentecostais. Alguns compositores de música sacra surgiam
das fileiras das próprias comunidades, o que tornava o movimento mais peculiar,
diferindo dos movimentos anteriores de aproximação com o povo, encabeçados por
líderes denominacionais. Esses cantos, embora muito semelhantes aos da música
contemporânea secular, enfatizavam a contemplação e a simbologia. Por causa da influência
carismática, a música escrita para a igreja “fugiu” das mãos dos profissionais
e se colocou ao alcance de todos.
Quanto
à contemporaneidade do fazer musical nas igrejas protestantes, precisa-se
admitir que não foram poucos os esforços no sentido de se obter música com as
mesmas estruturas daquelas produzidas fora do ambiente eclesiástico, vividas e
disseminadas cotidianamente pelos meios de comunicação velozes do presente
século. Nem sempre esse tipo de música secular, como o caso da música “pop”
iniciada nos anos 50, foi aceito sem causar polêmica. Surgiram inúmeras pessoas
escrevendo do mesmo modo e com o mesmo objetivo: atrair os jovens para a
igreja.
A ala
evangelical dos protestantes resistiu um pouco mais para adotar esse
procedimento, mas, com o passar do tempo, também acabou deixando que o estilo
da música popular invadisse seus domínios. Isso aconteceu principalmente
através das chamadas “cantatas musicais jovens” ou “louvorzão”, apresentadas
mais para comemoração de dias especiais do calendário cristão, como páscoa e
natal, ou então, como “testemunhos” em cultos de “celebração”.
A
atitude de coadunação do canto sacro às características da música “pop” vigente
no meio secular demonstra que em alguns setores de igrejas cristãs tem havido a
preocupação com a educação religiosa dos jovens. Essas igrejas perceberam que o
canto é um veículo poderoso para o ensino e crescimento espiritual da
juventude, principalmente se sua linguagem for a mesma que circula nas rádios,
televisões e demais canais de comunicação atuais.
As
igrejas Luterana e Anglicana também estão em processo de tornar contemporâneos
o estilo musical e o texto de seus hinos. Embora isso ainda não esteja presente
nos hinários oficiais, essa tendência pode ser facilmente atestada pela análise
dos cancioneiros que têm surgido há pouco tempo e da produção fonográfica. As
duas igrejas também têm dado espaço para a produção de cantos
caracteristicamente regionalísticos.
As
demais igrejas protestantes históricas, como a Metodista, Batista e
Presbiteriana, estão também tornando contemporânea sua linguagem musical, mas
de forma diferente. Na verdade, estão apenas contextualizando os “gestos” do
fazer musical, quando copiam os trejeitos das bandas estrangeiras e traduzem,
mesmo que sofrivelmente, as canções que a mídia vem propagando “aos quatro
ventos”.
Essas igrejas
imitam as neopentecostais, adotam seus cantos, compram seus cancioneiros. Mais
que isso: abandonam seus hinários oficiais e passam a projetar nas paredes as
canções dos carismáticos. Estão, com isso, perdendo a identidade denominacional
e fragilizam sua teologia, pois os textos desses cantos dão prioridade à
doxologia e, embora falem também sobre a comunhão entre irmãos, não dão relevo
a assuntos tão vitais para o protestantismo histórico, como o pecado, a
salvação pela graça de Deus, a cruz, morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Os
cantos avulsos provenientes da ala carismática tampouco descem das “regiões
celestiais” para o nível do chão, a fim de se colocarem à disposição do serviço
ao próximo e/ou aos menos favorecidos. A tendência atual de algumas igrejas
protestantes históricas em abandonar seus hinários oficiais enfraquece sua
identidade como denominação distinta e não valoriza suas raízes históricas,
muitas vezes arduamente conquistadas.
Em
contra ponto, algumas igrejas protestantes têm-se apercebido de que é essencial
guardar a herança que outras gerações lhes legaram, herança expressa nos cantos
de eras passadas, mas que preservam seu passado histórico e fomentam sua
identidade. Esse fato foi ainda constatado pela observação do apego que os protestantes
de algumas igrejas não-litúrgicas têm expresso pelo seu hinário, chegando a
tomá-lo como um “livro doutrinário” ou documento oficial da denominação. Por
causa de tal função, sentem que é imperioso resguardar a sua memória. Algumas
vezes, a própria igreja se deu conta de que a tradição dos cantos vale a pena
ser mantida quando se deseja educar o povo.
Hoje no
mundo e no Brasil, vive-se uma nova eclesiologia e estética musical a partir
mudança da centralidade do culto. No que diz respeito ao papel da música na
liturgia, é muito comum vermos nas igrejas evangélicas grupos chamados “equipe
de louvor”, cuja finalidade é ministrar o louvor à igreja em um certo momento
do culto. Estes grupos surgiram provavelmente com o crescimento do movimento
neopentecostal, culminando no surgimento de várias denominações, como a Igreja
de Nova Vida, Cristo Vive, Universal, Comunidades Evangélicas, etc. Todas elas
possuem uma coisa em comum: a ênfase na música de adoração impregnada de um
emocionalismo exagerado.
Suas equipes
de louvor têm a função de ministrar o louvor; de levar o público a um êxtase
musical, de maneira que possam sentir a presença do Espírito de Deus. Formadas
por jovens, estes grupos cantam…, cantam…, cantam…, até que o clima do culto
seja satisfatório às necessidades de cada membro.
Normalmente,
um líder toma a palavra enquanto os outros participantes cantam suavemente.
Logo depois, o líder começa a proferir palavras de ordem: vamos fazer isso…;
fazer aquilo…; eu estou vendo isso…, eu estou vendo aquilo…A repetição de
trechos musicais com grande teor de emoção intercalados a estas “falas” do
líder conduzirá a congregação a experimentar um sentimento de satisfação
pessoal momentâneo, pois esta prática possui, em muitos casos, um efeito
passageiro, caracterizado pelo espírito de vida pós-moderno, em que o ser
humano busca entretenimento e prazeres imediatos em coisas transitórias. Nestas
equipes de louvor, a música é usada, talvez de forma inocente, como meio de
manipulação para tornar o culto mais agradável para os crentes e visitantes.
A
música no culto cristão que leva a busca da satisfação do homem não é coerente
com o seu papel na vida da igreja, e sim caracteristicamente ufanista ou
personalisticamente devocional (religioso), pois a centralidade do culto está
inquestionavelmente em Deus e na partilha do pão, onde o papel da música deve
ser de levar o homem a contemplar a beleza e refletir sobre o centro da
adoração (Sacro).
A
música é arte, e arte é instrumento. Ela pode ser uma obra religiosa ou sacra.
Hoje,
pode-se fazer uma leitura clara de que a modernidade trouxe novas visões,
ouvidos e rumos para a eclesiologia da igreja protestante. Sendo assim, o seu
desafio é a consciência estar diante de uma modernidade consumista que agride
sua identidade histórica, refletindo sobre de que forma ela pode ser Reformada e estar sempre se
Reformando…
Bibliografia:
1.
ALLMEN, J. J. von. O Culto Cristão : Teologia e Prática. São Paulo : Aste,
1968.
2.
CARPEAUX, Otto Maria. O Livro de Ouro da História da Música. Rio de janeiro:
Ediouro. 2001.
3.
FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto Cristão. São Paulo:
Editora Sinodal. 1999://musicaeadoracao.com.br/25015/da-sacra-a-religiosa/#sthash.kTITqaZ3.dpuf
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