HINOS DE LUTERO COMENTARIO E REFLEXÃO N.1
01/12/1534
Eu venho a vós dos altos céus
Hino 15
1. Eu venho a vós dos altos céus, trazendo o anuncio bom de Deus;
da boa nova hei de cantar, quero exaltar e jubilar.
2. Menino lindo vos nasceu, Maria foi que à luz o deu;
é tão pequeno, terno e bom! Cantai louvor em claro tom!
3. É Cristo, Deus, nosso Senhor, liberta-vos de toda a dor;
vem mesmo para vos salvar e do pecado vos livrar.
4. Felicidade singular o Pai vos soube preparar:
Jesus vos traz a salvação de sua celestial mansão.
5. Vede, ó pastores, os sinais: Assim o Salvador achais:
Na pobre manjedoura jaz o eterno Príncipe da Paz.
6. Ó vinde todos jubilar, com os pastores adorar.
Olhai o que Deus Pai nos deu: O bem-amado Filho seu.
7. Ó sê bem-vindo, meu Salvador! Não desprezaste o pecador!
Tu vens comigo aqui sofrer: Como é que eu posso agradecer?
8. Louvor e glória ao Pai no céu, que o Filho amado ao mundo deu!
Os anjos jubilando estão, nos cantam ano novo e bom.
1.) Comentário e reflexão
Eu venho a vós dos altos céus -Nº 15
Este é um dos 37 hinos de Martim Lutero. Lutero era pessoa um tanto rude,
porém, não era nenhum puritano. Ele era um amante apaixonado de música e poesia
popular. Ele disse: Eu gostaria de ver todas as artes, especialmente a música,
a serviço daquele que as criou e nos deu. Ele mesmo tocava flauta e outros
instrumentos e escreveu várias peças para os seus filhos, sendo muito estimadas
pela cristandade as que produziu para as crianças. Ele gostava muito de
crianças, ele teve um sentimento profundo para a festa de Natal. Em 1534 ele
escreveu para os seus filhos (incluindo o seu pequeno filho Hans) um dos mais
deliciosos e comoventes de todos os hinos de Natal - Vom Himmel hoch da komm
ich her (Eu venho a vós dos altos céus). De acordo com Clemente A. Miles, o primeiro
verso foi inspirado por uma canção secular : Aus fremden Landen komm ich her
(Venho de terras estrangeiras).
Pela primeira vez o hino foi publicado na coleção Geistliche Lieder em
Wittenberg, 1535, com o título Ein Kinderlied auf die Weihnacht Christi. (Uma
canção para crianças a respeito do Natal de Cristo). Inicialmente o hino foi
cantado pela melodia original da canção popular. Depois o hino passou a ser
cantado com a melodia, atribuída ao próprio Reformador, composta em 1539.
Lutero amava a sua família. Com ela executava música em seu lar. No Natal
de 1534 a família Lutero já contou com 5 filhos: Hans (*07-06-1526), Lene
(*04-05-1529), Paul (*1530), Martin (*1531) e a Margarete (recém-nascida em
17-12-1534). O hino contava originalmente com 15 estrofes. Na comemoração do
Natal, em casa de Lutero, primeiro um adulto vestido de anjo cantou (nas seis
estrofes iniciais e no HPD as estofes 1 a 6) a boa notícia que o anjo trouxe
aos pastores. Esta declaração foi seguida pela resposta dos pastores, e nossa
saudação de boas-vindas ao nosso Salvador (as próximas 9 estrofes foram
cantados em resposta pelas crianças de Lutero, sendo a última cantada em
conjunto pelo anjo e as crianças). Deste jeito Lutero conseguiu ensinar seus
filhos pequenos a história do nascimento de Jesus e levá-los à gratidão a Deus.
– Corais assim extensos eram usuais naquela época. Mas, para que se tornasse
possível o seu uso pela comunidade eclesiástica, o próprio Lutero logo o
reduziu a sete estrofes.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) usou este coral três vezes em seu
famoso Oratório do Natal: uma na primeira parte, e duas na segunda, sempre
harmonizado de modo diferente. E ainda o usou em seu Magnificat, sob a forma de
pequeno moteto, logo após o Et exultavit. Ao escolher as estâncias para os
corais de suas cantatas, paixões e oratórios, Bach não hesitava em desligá-los
do todo; vemo-lo com freqüência aproveitar uma só estrofe de determinado hino.
O hino desfrutou grande popularidade na Alemanha desde que foi escrito.
Há uma história não comprovada (mas freqüentemente repetida) que este canto
alegre teve uma certa importância na Véspera de Natal de 1870, durante a guerra
entre França e Prússia. A história conta que, inesperadamente, um soldado
francês saltou fora da trincheira dele e cantou um Cântico de Natal em francês.
Movido pela canção, os alemães não atiraram contra o soldado francês, mas
inspirado pelo sentimento, um soldado alemão saiu da trincheira dele e
cantouVom Himmel hoch da komm ich her (Eu venho a vós dos altos céus) de
Lutero, um hino de Natal popular na sua pátria. - Há notícias de que algo
semelhante aconteceu na Segunda Guerra Mundial com o bonito cântico natalino
austríaco Stille Nacht! Heilige Nacht!, cantado por soldados em trincheiras em
ambos os lados.
24/12/1523
Louvado
sejas, ó Jesus!
Hino 18
24/12/1523
Louvado
sejas, ó Jesus!
Hino
18
1.
Louvado sejas, ó Jesus! Resplandece o céu em luz.
Da
virgem nasces em Belém; os anjos cantam: Cristo em! Aleluia!
2.
Filho unigênito do Pai jaz na manjedoura, olhai!
Em
nossa carne e sangue vem o eterno e mais precioso bem. Aleluia!
3.
A luz eterna vem brilhar, nosso mundo iluminar;
em
nossa noite raia a luz que ao Reino celestial conduz. Aleluia!
4.
O Filho, que Deus muito amou, homem pobre se tornou;
quer
nos livrar de todo o mal, quer dar-nos glória celestial. Aleluia!
5.
Jesus tornou-se nosso irmão; jubilai com gratidão!
Cantai-lhe
graças, daí louvor por seu imenso e eterno amor. Aleluia!
Autor
da letra: Martinho lutero
Louvado sejas ó Jesus
Comentário e Reflexão
hino 18 - Louvado sejas, ó Jesus
Textos bíblicos: Romanos 8.29; Hebreus 2.11-17;
O HPD nº 18 - Louvado sejas, ó Jesus é um dos hinos do reformador Martin
Luther, que conta entre os primeiros que ele compôs. Provavelmente foi feito
por volta do Natal de 1523, pois na sexta-feira após Epifania (ou seja: após 6
de janeiro) de 1524 já se achava impresso em folhas avulsas. E no mesmo ano de
1524 se encontra no “Enchiridion de Erfurt” e no “Gesangbüchlein de Johann
Walther”.
A melodia foi conhecida já por volta de 1460 em Medingen, ela foi
encontrada num convento entre manuscritos feitos por freiras.
Para vários de seus hinos Martin Luther tem recebido impulsos de cânticos
mais antigos. Provavelmente também para o “Louvado sejas, ó Jesus” ele baseou a
primeira estrofe numa poesia da Idade Média (cerca de 1370)1 que tem o mesmo ritmo e o mesmo conteúdo:
“Lovet sistu ihu crist,
dat tu hute gheboren bist
van eyner mahget. Dat is
war.
Des vrow sik al de
hemmelsche schar. Kyr.”
Assim a primeira estrofe no hino de Martin Luther ainda reflete o
espírito da Idade Média. A respeito do nascimento do Salvador as mentes naquela
época se ocupavam principalmente com dois temas (a) a virgindade e (b) os
anjos. Os teólogos se empenharam a desvendar o incompreensível mistério do
nascimento de Jesus por uma mãe virgem. Foi em vão. Mas a Virgem Maria continuou
a ter um lugar de destaque na Igreja Católica Romana. O segundo tema de maior
interesse na Idade Média foi a participação dos anjos. Acreditava-se que os
anjos fossem dirigentes dos astros e que nos astros estivessem escritos os
destinos dos seres humanos.
Martin Luther deixa à Virgem e aos anjos os seus lugares que eles têm na
Bíblia (Mateus 1; Lucas 1 e 2). Porém, nas demais estrofes, ele dirige nossa
atenção para a última palavra, que, no original alemão, usa a expressão grega
“Kyrioleis” (de Kyrie eleison = Senhor, piedade). Os tradutores do HPD 18
substituíram este grito de socorro pelo voto de louvor hebraico “Aleluia”
(Louvado seja Deus)2.
A partir da segunda estrofe, Luther acentua o fato de que com a vinda de
Jesus para este mundo foi vencida a imensa distância entre o eterno e o
passageiro, entre o infinito e o transitório, entre Deus e os seres humanos.
(veja Filipenses 2.6-8). Observe na 2ª estrofe os contrastes entre “nossa carne
e sangue” por um lado e “o eterno e mais precioso bem” por outro. E na 3ª
estrofe “a luz eterna” e a “noite” escura de “nosso mundo” (Ev. João 1.5+9).
As 4ª e 5ª estrofes descrevem o porque do nascimento de Jesus, acentuando
o grande, imenso, eterno amor de Deus e lembrando Ev. João 3.16: “Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”. Deus chegou tão perto
de nós. Por isso “jubilai com gratidão! Cantai-lhe graças, dai louvor”, seja
com o grego Kyrie eleison, ou seja com a palavra hebraica Aleluia!
A melodia deste hino foi trabalhada desde 1544 (Balthasar Resinárius) até
o século XX por inúmeros compositores, entre eles Johann Sebastian Bach (BWV
91, 604, 722).
Notas:
1. Manuscrito da época de 1370 guardado em Kopenhage.
2. Kyrie eleison (=Senhor,
misericórdia) já bem antes do cristianismo, foi usado como tributo de homenagem
e veneração a soberanos e divindades. No cerimonial da corte antiga o Imperador
foi saudado com esta aclamação solene, sempre que entrava no recinto. Os judeus
dispersos em terras de língua grega usaram o título Kyrios para o Deus de
Israel (Adonai, Senhor). No início do cristianismo o termo Kyrios tornou-se
designação central para a soberania de Jesus Cristo (p.ex. Filipenses 2.10+11).
Os cristãos, ao confessarem „Cristo é o Senhor“, distanciaram-se claramente dos
cultos prestados aos soberanos e outras divindades. - Mais tarde a aclamação
Kyrie eleison (Senhor, piedade) fazia parte da liturgia do culto na Igreja
Ortodoxa Grega. Cerca a partir do ano 500 foi usada também na liturgia da
Igreja Romana, onde a língua oficial era o latim; porém, manteve-se a expressão
Kyrie eleison na língua original grega. - Na Idade Média a música na Igreja era
executada pelo coral litúrgico e pelo clero. Em consequência disso o canto
congregacional nos cultos foi diminuindo em grande parte da Europa central. Mas
na Alemanha o canto congregacional sobreviveu através dos Leisen. Canções
sacras que incluiram ou terminaram com o Kyrie eleison, (que podia ser
contraída para kirleis ou leis) cantado pelo povo da igreja, eram chamadas de
Leisen. Já que naquela época grande parte do povo era composto de analfabetas
pode-se concluir que nem sabiam o que estavam cantando. O Kyrie eleison era
para eles uma expressão de alegria ou um voto de louvor, equiparado ao Aleluia
de origem hebraica.
fonte luteranos
fonte luteranos
Ó Jesus Cordeiro, tiras o pecado e o mal
Hino 49 Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal
Hino 49
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tem piedade!
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tem piedade!
Ó Jesus, Cordeiro, tiras o pecado e o mal – tua paz concede!
Amém.
Comentário e reflexão
HPD 49 e 55 Agnus Dei (Cordeiro de Deus)
Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Ev. João 1:29).
Uma oração fervorosa, baseada nesta passagem da Escritura, fazia parte do
serviço do altar na liturgia grega, na igreja antiga. Na igreja Ocidental
também foi usada desde cedo como parte da liturgia da eucaristia. O Papa Gregor
o Grande incluiu isto no Liber Sacramentorum dele do sexto século. No sétimo
século tornou-se habitual que o padre cantasse esta oração. O Papa Sergius
(687-701) ordenou que deveria ser cantado pelo padre e a congregação e que
deveria ser usado na eucaristia. Mais tarde foi decretado que deveria ser
cantado somente pelo coro, depois da consagração dos elementos e imediatamente
antes da distribuição. No décimo segundo século ficou habitual repetir a oração
três vezes, mas com palavras de conclusão diferentes, como segue:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis!
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis!
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, da pacem nobis!
O Bispo Durandus (+1207) diz a esse respeito: Ninguém manifestou maior
paciência debaixo do mais intenso sofrimento, tentação, e angústia que nosso
querido Salvador, portanto a Igreja se maravilha disto e canta três vezes o '
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, ' etc. Ao repetir isso, consideraremos nós
como nosso Senhor Jesus (1) carregou nossos pecados, (2) levou sobre si o
castigo, (3) pela pregação do Evangelho e pela distribuição do sacramento Ele
trouxe os méritos dele em nossos corações (Skaar).
Martim Lutero, na sua primeira ordem para o culto com Santa Ceia, reteve
o Agnus Dei para ser cantado em latim, e ele acrescenta que, de todas as várias
partes do serviço do altar, esta especialmente é própria para uso com o
sacramento santo. Mas na Deutsche Messe dele de 1526 ele prefere também ter o
Agnus Dei cantado no alemão. Sem dúvida ele se referiu então à versão seguinte:
Christe, du Lamm Gottes, der du trägst die Sünde der Welt, erbarme dich unser!
Christe, du Lamm Gottes, etc., erbarme dich unser! Christe, du Lamm Gottes,
etc., gieb uns deinen Frieden! No HPD nº 49 foi traduzido por: Ó Jesus,
Cordeiro, tiras o pecado e o mal – (1) tem piedade; ...(2) tem piedade; ...(3)
tua paz concede! Amém.
O cântico Agnus Dei em sua forma extensa (HPD nº 55) foi escrito por
Nikolaus Decius no dialeto Baixo-alemão. Consiste em sete linhas que são
cantadas três vezes. A única mudança acontece na última linha da terceira
estrofe, como segue:
1. O Lamm Gades vnschüldlich / am stam des crützes geslachtet, / all tydt
gevunden düldich, / wo wol du wordest vorachtet; / all sünd heffstu gedragen /
syst moste wy vortzagen. / Erbarm dy vnser, o Jesu!
2. O Lamm Gades vnschüldlich am stam des, u. s. w. Erbarm dy vnser, o Jesu!
3. O Lamm Gades vnschüldlich am stam des, u. s. w. Giff uns dynen frede,
o Jesu.
Esta versão, intitulada por Dat Agnus Dei, apareceu primeiro em 1531 em
Rostock no Geystlycke Leder de Dietz. Mas ela deve ter sido escrita mais cedo,
como mostra uma tradução dinamarquesa, editada por Klaus Mortensøn1 em 1528. A
versão em alto-alemã do hino de Decius achou lugar logo nos diversos hinários
da Alemanha, p.ex. em 1539 no Gesang Buch de Valentin Schumann, em Leipzig. Era
geralmente usado como um hino de Santa Ceia. Também foi cantado na
Sexta-feira-Santa. Em Württemberg repicaram os sinos de igreja enquanto o Agnus
Dei foi cantado como o hino final. Porém, o hino de Decius não eliminou o
antigo Agnus Dei. Mesmo nas traduções do nosso HPD ainda permanecem as duas
versões. (HPD nº 49 e 55).
Cristo
entregou-se à morte
Hino 57
1. Cristo entregou-se à morte, livrou-nos do pecado;
a vida foi mais forte: Senhor, ó sê louvado
Nós queremos exultar e eternamente exaltar.
Cantamos aleluia, aleluia!
2. Ninguém a morte dominou, com seu poder ingente;
eis que o pecado o mal causou; não houve um inocente.
Pois a morte triunfou, nos seus grilhões nos apresou;
as trevas dominaram. Aleluia.
3. Cristo Jesus, Filho de Deus, do céu foi enviado;
venceu a morte e os males seus, venceu todo o pecado.
Perdeu a morte o seu poder, Jesus a conseguiu vencer;
seu aguilhão tirou-lhe. Aleluia.
4. Houve uma guerra estranha: Prevaleceu a morte.
Mas não valeu-lhe a sanha: A vida foi mais forte.
Quando Gólgota expirou, Jesus a morte aniquilou.
O inferno foi vencido. Aleluia.
5. Sim, Deus mandou o Filho seu, que é o real Cordeiro;
por ter-nos grande amor, sofreu, morrendo no madeiro.
O sinal de sangue está em nossa porta e impedirá
que à morte sucumbamos. Aleluia.
6. Nós festejamos com louvor a Páscoa em alegria,
pois ressurgiu o Salvador, raiou um novo dia.
Cristo, a graça divinal, nos fulge em brilho celestial.
Ele é a nossa vida. Aleluia.
Cristo entregou-se à morte
Comentário e Reflexão
Letra: Martin Luther, 1524
Melodia: do século 11, adaptada por Martin Luther, 1524
Textos bíblicos: Apocalipse 5.9; Exodo 12.13; 1 Timóteo 1,10; 1 Coríntios
15.54seg.
“Cristo entregou-se a morte” (Christ lag in Todes Banden) é um coral da
autoria de Martin Luther. Ele foi publicado em 1524 no Enchiridion de Erfurt,
com o sub-título “O coral ‘Cristo ressuscitou’ melhorado”.
No original alemão o coral conta com sete estrofes. As seis primeiras
encontramos traduzidas em nosso hinário HPD. O hino celebra a ressurreição de
Jesus, com particular referência a uma luta entre a vida e a morte. Para as
primeiras quatro estrofes Martin Luther emprestou idéia e termos de uma antiga
canção latina: “Victimae paschali laudes” (veja também o hino de HPD nº 61)1.
A 1ª estrofe convida para louvar, exultar e cantar porque Cristo nos
libertou das algemas do pecado. A 2ª estrofe descreve o grande e indomável
poder da morte; parece que pecado e morte estão triunfando, pois “todos pecaram
e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Mas na 3ª fica claro que Jesus
venceu esta luta, pois removeu “o aguilhão da morte” ( 1 Coríntios 15.56); a
“picada” do pecado não incomoda mais. A 4ª estrofe acentua que não se trata de
uma brincadeira, mas foi “uma guerra estranha” ou esquisita (no original “ein
wunderlicher Krieg”). Ela descreve bem a agitação e inquietude da luta: ora um
guerreiro parece mais forte, ora outro, até que finalmente se pode cantar “O
inferno foi vencido. Aleluia”. A 5ª estrofe com o “real Cordeiro” e “o sinal de
sangue na porta” recorda como Deus havia libertado o seu povo do jugo no Egito
. Nas entrelinhas descobrimos João 3,16 “Deus amou ao mundo de tal maneiro que
deu o seu Filho unigênito”. Na 6ª estrofe observe os termos usados! Quantas e
quais as palavras que descrevem o raiar do sol da Páscoa que nos dá esperança e
alegria e nos faz cantar “Aleluia”?
A melodia usada por Luther para este hino parece ter forte correlação com
partes da Sequência litúrgica para o dia de Páscoa:”Victimae paschalis laudes”,
Acredita-se que a melodia original tenha sido escrita por Ompi da Borgonha , no
século 11. Este foi transformado, gradualmente em uma Leise, (uma canção
devocional em alemão do tempo antes da Reforma Luterana) mas manteve as
características de cantochão. Luther elaborou uma nova versão melódica, que foi
publicada no Enchiridion de Erfurt (1524). E Johann Walter fez uma adaptação
para o seu Wittembergisch Geistlisch Gesangbuch (1524).
Ó Santo Espírito do Senhor
Hino 82
1.
Ó Santo Espírito do Senhor,
dá-nos fé e verdadeiro amor!
Queiras confortar-nos
em nossa vida;
tua igreja mantém unida.
Kyrie eleison.
dá-nos fé e verdadeiro amor!
Queiras confortar-nos
em nossa vida;
tua igreja mantém unida.
Kyrie eleison.
2.
Sagrada luz, vem resplandecer.
Cristo só nos faze conhecer!
Que permaneçamos
com ele unidos,
pois por ele fomos remidos.
Kyrie eleison.
Cristo só nos faze conhecer!
Que permaneçamos
com ele unidos,
pois por ele fomos remidos.
Kyrie eleison.
3.
Ó poderoso Consolador,
vem, reveste-nos com teu vigor!
Que na desventura
não pereçamos,
mas, lutando,por ti vençamos.
vem, reveste-nos com teu vigor!
Que na desventura
não pereçamos,
mas, lutando,por ti vençamos.
Ó Santo Espírito do Senhor
Comentário e Reflexão
Letra: 1ª estrofe do século 13; 2ª-4ª estrofes de Martin Luther, 1525
Melodia: do séc.13, Jistebnitz 1420; adaptado em Wittenberg 1524.
Textos bíblicos: 1 Coríntios 12.3; Filipenses 2.2+3; Filipenses 3.20.
HPD 82 Ó Santo Espírito do Senhor (Nun bitten wir den heiligen Geist) faz
parte do grupo1 dos primeiros corais
luteranos. A primeira estrofe já era conhecida no século 13. Ela é uma das mais
antigas “Leisen” em língua alemã2. Martin Luther apreciava muito esta Leise. No
ano de 1523, dentro do texto da “Formula Missae”, ele escreveu: “Faltam-nos
poetas. Por isso, por enquanto, admitimos que se cante após a distribuição da
Santa Ceia ‘Deus seja louvado e exaltado, pois pessoalmente nos
alimentou...etc.’Além desta canção também interessa ‘Ó Santo Espírito do
Senhor’.” No ano de 1524 ele pessoalmente compôs mais três estrofes. Além da
primeira estrofe ainda a segunda e a quarta estão em nosso hinário. A terceira
foi omitida. Infelizmente, o tradutor não se esforçou a permanecer fiel ao
texto original.
A 1ª estrofe, no original alemão, é uma prece dirigida ao Espírito Santo.
Pedimos que o Espírito Santo nos dê principalmente “a verdadeira fé”. Essa fé
queira confortar-nos no fim da vida, quando voltamos deste mísero mundo para a
pátria celestial (Fp 3.20). O monge Berthold von Regensburg (1210-1272)3 transmitiu essa antiga Leise numa de suas
prédicas. Por isso conclui-se que ela já era bem conhecida no século 13. Na
época foi cantada principalmente em funerais. Ali a palavra final Kyrieleis (no
sentido de “Senhor tem piedade”) se ajusta muito bem. Em nosso hinário HPD 82
consta entre os hinos para Pentecoste.
Na 2ª estrofe Martin Luther compara o Espírito Santo com uma “sagrada
luz” que brilha ou “resplandece”. Ela ilumina nossa mente ou entendimento. Ela
nos faz conhecer quem é Cristo. Aqui a tradução é mais fiel ao original.
Compare esta estrofe com a explicação de Martin Luther ao 3º Artigo do Credo
Apostólico no Catecismo Menor: “Creio que por minha própria inteligência ou
capacidade não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o
Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons...”
Nas 1ª e 2ª estrofes Martin Luther ressaltou a importância da fé. Na 3ª
estrofe ele passa a falar do amor cristão, que é presente do “doce amor”. Ele
usa termos da antiga antifonia latina „Veni Sancte Spiritus...“, a qual se
baseia nos textos bíblicos de Efésios 4.2+3 e Filipenses 2.2.
Tu, doce amor, presenteia-nos com tua graça,
deixa-nos sentir o fogo (ou calor) do amor,
que nos amemos uns aos outros de coração
e vivamos em paz unidos, tendo todos o mesmo sentimento.
Kyrioleis.4
Esta oração pelo verdadeiro amor é tão importante como a prece pela
verdadeira fé. Exatamente hoje em dia, onde é grande a influência de egoismo e
desamor, brigas e separações, precisamos da ação do Espírito Santo, para que
voltem a reinar amor ao próximo, paz, união e „o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus“ (Filipenses 2,5).
O conteúdo da 4ª estrofe podemos resumir com a palavra „Esperança“. Nós
não temos motivos para desesperar nas turbulências desta vida. O Espírito Santo
é chamado de „poderoso Consolador“ (João 14.16+26; João 15.26). Ele nos consola
e pode „revestir-nos com vigor“ (Atos 1.8). Ele pode dar-nos coragem para
enfrentar toda sorte de desventuras, inclusive a própria morte e o juizo final.
A mais antiga publicação das quatro estrofes deste hino encontra-se na
Coleção de Corais de Johann Walther, de 1524. No mesmo ano o hino também foi
publicado no „Teutsch Kirchen ampt“ de Estrasburgo. No ano de 1525 apareceu em
vários Enchirídios. Porém, em nenhuma destas edições consta o nome do autor.
Somente a partir de 1528 (Enchiridion de Zwickau) encontra-se como autorMartin
Luther. No ano de 1542 Luther incluiu este hino em sua coleção de „Christliche
Gesänge, lateinisch und deutsch, zum Begräbnis“ (Cânticos Cristãos , em latim e
alemão, para funerais).
Notas:
1.Outros são HPD 18 (Natal) e 57 (Páscoa)
2. “Leisen” chamavam-se as canções que terminavam com “Kyrie-eleison”
cantado pelo povo em língua alemã depois que o coro havia encerado o cântico
litúrgico em latim.
3.Berthold de Regensburg era frade mendicante que atraia grande número de
ouvintes. Em suas prédicas criticava a sociedade capitalista da primeira fase.
4. Inglês:
FONTE LUTERANOS.COM
Nós cremos todos num só
Deus
Hino 88
1. Nós cremos todos num
só Deus, Criador de céu e terra.
Nós todos somos filhos
seus; nele todo o amor se encerra.
Quer unir-nos com
carinho, alma e corpo preservar-nos;
tira o mal que há no
caminho; perdição não há de alcançar-nos.
Protege-nos com seu amor.
Tudo está nas mãos do Senhor.
2. Nós cremos todos em
Jesus, Filho Seu, Deus glorioso,
eterno, como o Pai na
luz, Deus igual e poderoso.
Foi nascido de Maria,
pelo Espírito gerado;
trouxe a nova da alegria,
em favor do homem condenado.
Na cruz foi morto, mas
por Deus, ressurgiu e retornou aos céus.
3. Nós cremos todos com
fervor em o Espírito Divino.
Com Deus e com Jesus,
Senhor, o adoramos em nosso hino.
Guarda toda a cristandade
e a conserva sempre unida;
perdoando a iniqüidade,
nos concede a eterna vida.
Após a luta, o Senhor há
de nos levar ao seu fulgor.
Nós cremos todos num só
Deus
Comentário e Reflexão
HPD 88 – Nós cremos todos
num só Deus
Letra: Martin Luther,
1524, baseado numa estrofe de Breslau 1417 e Zwickau 1500.
Melodia: do século 15,
adaptado em Wittenberg 1524.
“Nós cremos todos num só
Deus, Criador de céu e terra... (Wir glauben all an einen Gott, Schöpfer
Himmels und der Erden) HPD nº 88 é mais um hino da autoria do reformador Martin
Luther. Já bem antes do movimento da Reforma existiam duas versões em língua
alemã, de uma só estrofe cada, com conteúdo semelhante: a versão de Breslau do
ano 1417, e a versão de Zwickau por volta do ano 1500.
A partir do ano de 1523 o
jovem Stephan Roth da cidade de Zwickau morava em Wittenberg. Ele frequentava a
casa dos Luther. Supõe-se que Roth tenha dirigido a atenção de Martin Luther ao
cântico na versão de Zwickau e o tenha estimulado a compor um novo hino. Pois
logo no ano de 1524 as três estrofes de Luther foram publicadas na coleção de
hinos de Johann Walther em Wittenberg.
Neste hinário de J.
Walther elas constam após os hinos de Páscoa e de Pentecoste, antes do hino da
Trindade “Gott der Vater wohn uns bei...” (Deus o Pai assista a nós...). No ano
de 1526 Luther editou a “Deutsche Messe und Ordnung des Gottesdienstes” (Missa
alemã e ordem do Culto). Nela ele substituiu o Credo da missa católica romana
pelo hino “Nós cremos todos num só Deus”, ou seja, seu hino se tornou hino de
confissão de fé. A partir do ano de 1528 muitos hinários imprimiram como
sub-título as palavras “Das Patrem zu deutsch” (O Patrem1 em língua alemã). No entanto, na
reorganização dos hinos pelo Hinário de Klug, em 1529, o mesmo coral encontrou
lugar entre os hinos para funerais. E em 1542 o próprio Luther o incluiu na sua
coleção de “Cânticos cristãos, em latim e alemão, para funerais”.
Em nosso hinário HPD o
“Nós cremos todos num só Deus” foi colocado novamente entre os hinos que versam
da santíssima Trindade. Pode ser cantado também em lugar do Credo nos nossos
cultos, e mesmo para confessar a fé cristã em cerimônias funerais. Pois, ainda
que não seja tão extenso como o Credo Apostólico, este hino apresenta um resumo
daquilo que nós cremos, inclusive a esperança da vida eterna, após a luta.
No ano de 1963 nove
estudantes de teologia da Faculdade de Teologia de São Leopoldo gravaram o
primeiro disco LP da IECLB em Português. Ele recebeu o título “Nós cremos todos
num só Deus”. Este mesmo hino faz a abertura dos 12 corais desta coleção.
Johann Sebastian Bach
compôs algumas obras sobre este tema, p.ex.: BWV 437 Prelúdio coral, BWV 680
fughetta super, BWV 681fughetta, BWV 1098 toccata de órgão.
Ouça , BWV 680 [3:4]
Nota:
1. A expressão PATREM em
lugar de CREDO originou-se da liturgia em língua latina. O sacerdote abria o
credo cantando “Credo in unum Deum” (Creio em um só Deus), e então o coro
respondeu cantando “Patrem omnipotentem” (o Pai onipotente). “Patrem” foi,
pois, a primeira palavra que a comunidade reunida cantou.
Deus, o teu Verbo guarda
a nós
Hino 90
1. Deus, o teu Verbo
guarda a nós,
combate o inimigo atroz
que a Jesus Cristo, o
Filho teu,
quer derrubar do trono
seu.
2. Jesus, demonstra o teu
poder!
Ó Rei dos reis, vem
proteger
o povo teu – que possa
amar
e eternamente te louvar!
3.Espírito Consolador,
dá-nos união, fraterno
amor!
Na angústia vem nos
amparar,
da morte à vida nos
guiar!
Deus, o teu verbo guarda
a nós
Comentário e reflexão
HPD 90 Deus, o teu verbo
guarda a nós.
Este hino da autoria de
Martim Lutero foi achado em um manuscrito de 1530, denominado de Luther Codex,
publicado por O. Kade 1871 em Dresde, sob o título: Der Neugefundene Luther
Codex vom Jahr 1530 (O recém-encontrado Códice de Lutero do ano de 1530).
O hino foi impresso em
Wittenberg, 1541 ou 1542 em forma de folheto. Foi incluído no Magdeburger Gesangbuch
de 1542, e no Geistliche Lieder de Joseph Klug, publicado em Wittenberg, 1543.
Mais tarde recebeu o título de: Canção para Crianças, contra o Papa e o Turco,
os dois principais inimigos de Cristo e de sua Igreja. Pois no segundo verso da
primeira estrofe originalmente se cantava Und steur des Papsts und Türken Mord
(e governe a vontade de matar do Papa e dos Turcos). O termo canção para
crianças (= Kinderlied) subentende-se não como sendo uma canção infantil, e,
sim, como um hino que originalmente foi destinado a ser cantado pelo coro dos
meninos.
A maioria dos
pesquisadores acha que Luther escreveu este hino em 1541, quando apareceu a
Exortação para Oração contra os Turcos, a qual contém muitas expressões que
igualmente se acham no hino.
Mas era principalmente
durante os anos 1522-1529 que os Turcos ameaçaram a Alemanha. O Sultão,
Suleiman II, que subiu ao trono em 1520, havia conquistado uma parte de Hungria
e conquistou Rhodes em 1522. As hordas turcas varreram por cima dos limites de
Áustria e arruinaram grandes partes das plantações. Foi dito que a grama não
cresceu onde os Turcos tinham passado. Em 1529 eles sitiaram Viena e plantaram
suas bandeiras ao redor dos muros de cidade. Durante aquele mesmo ano o Papa
fez um esforço para destruir o trabalho da Reforma luterana.
Então, há razões boas
para assumir que Luther, nesta época, 1528-1529, escreveu os dois hinos, Uma
fortaleza poderosa é nosso Deus, e este hino (Kinderlied) contra os dois
oponentes perigosos da Reforma. Anti-Cristo, diz Luther em uma das suas
Conversas de Mesa, é o Papa e o Turco. A besta vivente tem que ter alma e
corpo. O espírito, ou a alma, de Anti-Cristo, é o Papa; a carne, ou o corpo, é
o Turco. Os ataques dos Turcos tentam destruir a Igreja de Deus, fisicamente. O
Papa tenta fazer isto espiritualmente, mas também usa a força física,
enforcando, queimando, e assassinando o testemunho do Senhor .
Em 1529 os Turcos
sofreram a primeira derrota séria. O avanço deles foi detido, e depois de
sofrer grandes perdas, eles retiraram-se de Viena. Bandos de Turcos ainda
continuaram por muitos anos saqueando os territórios dos alemães, de forma que
eles ainda por algum tempo tiveram que ser considerados como fonte de perigo
sério.
As palavras contra o Papa
e o Turco, que Luther usou neste hino, causaram certa estranheza. Em um
documento de 1548 há uma recomendação de que o segundo verso seja mudado para a
astúcia e o poder de Satanás. Esta mudança, porém, não aconteceu antes de 1714.
Ela foi feita por Freylinghausen no seu Geistreiches Gesangbuch. Nos mais
recentes hinários na Alemanha o segundo verso reza: und steure deiner Feinde
Mord (e governe a vontade de matar dos teus inimigos). Em nosso hinário HPD
esse verso é traduzido por combate o inimigo atroz. O singular o inimigo faz
pensar no satanás, o arqui-adversário de Deus. Este inimigo se pode esconder
atrás duma serpente tão bem como atrás de Papa e turcos.
Era natural que este hino
de Luther despertasse grande indignação entre os católicos. Nos distritos
debaixo de controle católico, este hino foi proibido estritamente, até mesmo em
alguns lugares foi ordenada a penalidade de morte. Por exemplo durante a Guerra
dos 30 Anos: em 10 de maio de 1631, General Tilly (católico) entrou em
Magdeburgo e massacrou os habitantes (evangélicos). As ruas foram cobertas
literalmente com cadáveres e moribundos. Um grupo de crianças escolares,
cantando o hino de Luther, veio marchando pela praça. Prontamente foram
degoladas e lançadas no fogo pelos soldados de Tilly. Conta-se que Tilly se
arrependeu mais tarde desta ação, mas que depois do dia deste massacre ele não
teve mais sucesso na sua campanha. A queda de Magdeburgo foi celebrada pelo
Papa com grandes festividades.
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